Thomas Heatherwick argumenta que existem muitos edifícios monótonos no mundo. Ele descreve a arquitetura “sem graça, vaga e esquecível” como uma “catástrofe global de um século”, uma “epidemia global de edifícios desumanos”. Ele acredita que essa onda de edifícios semelhantes, sejam eles em Bengaluru, Dallas, Buenos Aires, Canberra ou Nairóbi, trouxe “mudanças intensas e terríveis” que “vêm se infiltrando em nossas cidades e vilas nos últimos 100 anos, trazendo consigo destruição, miséria, alienação, doença e violência”1.
Heatherwick atribui a culpa por toda essa monotonia principalmente aos arquitetos, em particular ao modernista suíço-francês Le Corbusier, que, segundo Heatherwick, queria apenas monotonia produzida em massa com linhas retas. Ele também critica o americano Louis Sullivan, que disse que “a forma segue a função”, e Ludwig Mies van der Rohe, que popularizou a afirmação de que “menos é mais”. Heatherwick acredita que os arquitetos de hoje se divorciaram tanto dos processos físicos de construção quanto dos desejos e necessidades do público em geral. Em vez disso, eles aprendem teorias abstrusas em seus longos cursos nas escolas de arquitetura1.
No entanto, os argumentos de Heatherwick são também simplistas ao ponto de serem entorpecentes e esmagadores para a alma. Ele ignora de maneira um tanto insultuosa os arquitetos modernos que se esforçam diariamente para criar edifícios que não são desumanos, como o britânico David Chipperfield, os irlandeses Grafton Architects, os franceses Lacaton & Vassal, por exemplo. Ele tende a ver os edifícios como objetos singulares, como peças de joalheria, a serem julgados pela quantidade de estímulo que suas superfícies oferecem. Ele subestima coisas como a interação da aparência de um edifício com o uso, estrutura, clima e cultura, as relações do exterior com o interior e de um edifício com outro1.
Heatherwick não tem muito a dizer sobre o valor da simplicidade, as ocasiões em que se deseja que um edifício seja simples, para não distrair da natureza ou da vida humana ao redor, ou outras estruturas mais espetaculares. As geralmente admiradas fachadas das cidades georgianas pontuariam mal em seu “boring-o-meter”, uma ferramenta online que mede o quão “plano, simples, reto ou monótono” é um edifício1.
Acima de tudo, embora ele os mencione de passagem, Heatherwick não olha com muita atenção para as forças que tornam os edifícios contemporâneos “chatos” – finanças globalizadas, a substituição de artesanatos por técnicas de construção industrializadas, a escala pura da construção de cidades modernas. Ele prefere afirmar que os construtores desses blocos monótonos em todo o mundo, em grande parte indivíduos pragmáticos movidos pela praticidade e lucro, agem como agem porque estão em thrall às teorias esotéricas de indivíduos como Le Corbusier e Mies, que morreram há mais de 50 anos. Isso é improvável1.